domingo, 2 de agosto de 2009

Vivemos em uma nação que foi descoberta, não constituída. Nós não nos fizemos, não construímos uma identidade. Por falta dessa identidade transformamos um esporte de origem inglesa em um simbolo nacional.
Esporte que, assim como a sociedade que aqui se instaurou, é regido por leis, não pela justiça – situação que comunga com o pensamento de Maquiavel que diz ser o virtuoso não o que governa por meio das leis do Bem e do Mal, mas o que mantém “a disposição de fazer o todo necessário pela busca da glória...”
A cada ídolo que se cria, ficamos entre o perigoso pensamento de que a miséria não limita o talento – pois para nós um craque da bola é tão ou mais importante do que um cientista – e a banal constatação de que o esporte é um eliminador das diferenças sociais – “...agora, não tem mais preto ou branco, todos se abraçam no gol, não existe pobre ou rico...”, escreveu Mario Prata.

Cento e sessenta e nove milhões em ação. Quando um jogador acerta um passe, fomos nós que acertamos; ao perder um pênalti, fomos nós que perdemos. Nossa estima está relacionada às ações de outros.
É necessário tomarmos ciência que o valor de uma nação não pode ser mensurado pelo resultado de um simples jogo.
Nelson Rodrigues já usou a metáfora da “pátria de chuteiras”.
Que assim seja, periodicamente.
Que de quatro em quatro anos nos permitamos ser isto, mas nos conscientizemos em seguida que, citando Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.
-Edson Moreira.

“A civilização avançara nos sertões impelida por essa implacável ‘força motriz da História’ que Gumplowicz, maior do que Hobbes, lobrigou, num lance genial, no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes.” Euclydes da Cunha.









A Ilha do Brasil
“A ilha do Brasil, ou ilha de São Brandão, ou ainda Brasil de São Brandão, era uma das inúmeras que povoavam a imaginação e a cartografia européias da Idade Média, desde o alvorecer do século IX. Também chamada ‘Hy Brasil’, essa ilha mitológica, ‘ressonante de sinos sobre o velho mar’, se ‘afastava’ no horizonte sempre que os marujos se aproximavam dela. Era, portanto, uma ilha ‘movediça’, o que explica o fato de sua localização variar tanto de mapa para mapa... O nome ‘Brasil’ provém do Celta bress, que deu origem ao verbo inglês to bless (abençoar). Hy Brasil, portanto, significa ‘Terra Abençoada’. Desde 1351 até pelo menos 1721 o nome Hy Brasil podia ser visto em mapas e globos europeus, sempre indicando uma ilha localizada no oceano Atlântico.”
- A viagem do descobrimento - Eduardo Bueno
















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Iliada Brasileira
O tempo para
O coletivo se faz
O indivíduo morre

Se a globalização derruba fronteiras – pasteuriza identidades –
a cor dos uniformes restaura o patriotismo.
Ao adquirimos inimigos – advindos de sorteio –
damos ao intangível (esse medo de tudo que não é “eu”): corpo, forma e uniforme.


É o momento em que um povo, que vive na ignorância de si mesmo,
é capaz de se reconhecer e se aproximar através de um ideal em comum.
Capaz de se infligir uma jornada digna da descrição de Euclydes da Cunha,
onde desta vez é o povo de Canudos que vai a busca de seu inimigo.

Instante único em que se permite proclamar superior à aqueles – nórdicos,saxões, luteranos ou imperiais - que sempre o subjugou.

Se, para Garrincha, Kusnetsov foi simplesmente João,
que no decorrer do combate
Dechamps se tornem simplesmente Joãos,
Williams se tornem simplesmente Joãos,
Charles se tornem simplesmente Joãos,
Guntrers se tornem simplesmente Joãos,
Enzos se tornem simplesmente Joãos.

Que o povo adquira
– mesmo que por um momento efêmero –
um pouco de auto-estima.
- Edson Moreira.
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